Acontece nesta sexta-feira (28), às 20h, na casa de shows Blue Note, em São Paulo, a apresentação que reúne o guitarrista Luiz Bueno, a banda Tric J azz Rok e o percussionista Caíto Marcondes.
O Música em Letras esteve no ensaio desses talentosos artistas, entrevistou o guitarrista, que durante anos foi integrante do Duofel, e gravou um vídeo com exclusividade, mostrando o novo som que Luiz Bueno está fazendo com a Tric J azz Rok formada por Xantilee Jesus, no contrabaixo, e pela tecladista Geovanna Regazi, misturado ao som do percussionista Caíto Marcondes. Assista ao vídeo no final do texto.
Leia, a seguir, a entrevista que o guitarrista, compositor e arranjador Luiz Bueno concedeu com exclusividade ao blog.
O que é o grupo Tric J azz Rok?
Como indica a própria grafia do nome, o grupo traz um olhar da música instrumental em tempos de pandemia, com uma linguagem simples que se apoia no groove e swing. A linguagem das batidas eletrônicas ao invés da tradicional bateria de jazz dá o tom da periferia na música instrumental, enquanto a guitarra líder não caminha para o virtuosismo, mas sim pelas melodias.
Quando e por que o grupo surgiu?
Em 2020, com a pandemia e o lockdown, Fernando (integrante com Luiz Bueno do Duofel) e eu decretamos o fim do Duofel, que já vinha se desgastando de forma natural, após 40 anos de dia a dia. Foi um processo bastante difícil de ser vivido e sinceramente, fiquei um tanto sem norte para continuar a jornada musical. Contudo há um fato que aconteceu, em 2017, bastante importante no processo. Durante um show de Hermeto Pascoal e Heraldo do Monte, era dia de meu aniversário, 11 de março, eu estava na plateia e a convite do Campeão [Hermeto Pascoal] subi no palco para dar uma canja, com a guitarra do Heraldo. Na hora pensei: “Que fogueira!”. Entretanto tocamos juntos, com ele [Hermeto Pascoal] ao piano, e foi divertido. No final do show, no camarim, o Hermeto me disse: “Lula (é assim que me chama), faz muito tempo que um músico não me surpreende no palco. Hoje você me surpreendeu, tá na hora de você tomar seu caminho e fazer a tua música”. Levei cinco anos pra acreditar nessa fala e daí surgiu a Tric J azz Rok.
Qual o significado do nome do grupo?
No início, a partir da guitarra elétrica, criei Electric Jazz Rock, em inglês, sugerindo um som fusion de jazz e rock, que foi tomando um novo curso de forma orgânica a partir das experimentações que fizemos. Durante a sessão de fotos, com Gal Oppido, surge a ideia de criar o nome Tric de elec”tric”, J azz, quebrando o jazz e Rok sem o “c”, porque não é jazz, nem rock, é “tric”. Foi do Gal a sugestão da grafia Tric J azz Rok.
Que tipo de sonoridade o grupo produz?
Estou na contramão da tendência atual que privilegia o virtuosismo e muitas notas, nossa visão é o conforto, sofisticação e sonoridades contemporâneas, groove e suingue, melodias para levar pra casa. Na formação inicial éramos quatro: Kuba (percussão), Mario Souza Lima (contrabaixo) e Simão Simon (guitarra). Com duas guitarras não deu muito certo e ficamos em trio, iniciando algumas apresentações pelo Teatro da Rotina e JazzB. Embora estivéssemos tendo uma boa resposta de aceitação do som, eu ainda não estava realmente satisfeito, queria experimentar outras formações e, ainda em trio, chegaram Xantilee Jesus, no baixo elétrico, e o DJ B8, nas batidas eletrônicas. Nessa formação senti um caminho mais sólido para a sonoridade e a linguagem que pretendia, mas faltava um apoio harmônico e chamei a tecladista Geovanna Regazi para compor o grupo. Em quarteto gravamos cinco singles e um álbum, em formato digital, e nos apresentamos pelos clubes de jazz da cidade, com sucesso de público e excelente recepção da sonoridade. O tempo com o DJ também chegou ao fim, no início de 2024, para apresentações ao vivo, mas ainda permanecendo na criação das batidas para as gravações. Uma nova fase experimental surge então com o retorno da percussão somado às batidas eletrônicas. Marco Bosco [percussionista] apresentou-se conosco em shows e gravou dois singles: “Bananeira”, de João Donato e Gilberto Gil, e “Suingando na Roça”, música minha. Daí surge a ideia de experimentar percussionistas diversos para alguns shows e gravações sem o vínculo de fazer parte da banda, mas sim como convidados especiais.
Quem arranja as músicas do grupo?
Os arranjos vão tomando forma em grupo durante os ensaios. Eu trago a ideia inicial e juntos evoluímos a forma e arranjos. Aliás nunca finalizamos, nem forma nem mesmo os arranjos, que estão sempre em evolução.
Quem as compõe?
As músicas são de minha autoria. Esse é o meu novo som e por isso leva meu nome, Luiz Bueno e Tric J azz Rok. Também trago as músicas de outros autores para o repertório. É uma proposta da sonoridade e linguagem que estou idealizando e oferecendo muito bem afinadas e bem recebidas pelos dois outros componentes da banda, Xantilee Jesus e Geovanna Regazi. Com eles o som acontece como gostaria e tem uma coisa necessária nisso tudo que é a cumplicidade musical e comprometimento com a linguagem.
Há pretensões de gravarem um álbum? Quando?
Até o final de 2024 teremos um novo álbum, com as novas composições e arranjos de temas conhecidos, mas tudo isso tem um caminho natural e a gente caminha por ele.
O que mudou em sua carreira após ter parado de se apresentar com o Duofel?
O duo já vinha desacelerando sua criatividade. É muito difícil manter durante quatro décadas a mesma magia dos anos iniciais. É da própria natureza humana, além das influências externas do dia a dia de cada um. A gente vai amadurecendo, criando cada um sua família e tudo se confunde nas expectativas pessoais. Para mim foi uma experiência nada agradável ter que aceitar o fim do duo e recomeçar algo novo aos 70 anos, me reinventar. Passei alguns anos buscando um caminho que me trouxesse motivação e ânimo para seguir, mas o tempo é sabedor e aos poucos fui chegando nesse pensamento. Passei quarenta anos sentado numa cadeira, tocando violão e vestido de preto, tá na hora de levantar da cadeira, trocar de roupa e tocar o instrumento que me levou a ser um músico profissional, a guitarra elétrica. Não tem sido fácil o fato de recomeçar uma nova carreira, pois é disso que estamos falando quando deixei o violão pra trás. Junto ficaram os admiradores e fãs do Duofel, além dos programadores e contratantes para show de Sesc e festivais, mas por outro lado me trouxe algo muito bom, nesta altura da vida, a motivação de persistir e perseverar para vencer.
Você sente falta de tocar em duo?
Não. Estou gostando de ter outros músicos, com outros instrumentos e suas sonoridades.
Como será a apresentação que reúne você o Tric J azz Rok e Caíto Marcondes?
Com a guitarra elétrica pura, sem drive ou distorção, mas como aprendi a ouvir nos anos 60, com The Ventures e The Shadows, na surf music, e no Brasil, com The Net Black e Os Incríveis. Apresentaremos um tema, onde toco sitar indiano e elétrico trazendo sonoridade e tempero especial ao show. O playback das batidas eletrônicas criada pelo DJ de hip-hop B8 garante o suingue da periferia, somando à percussão completa o que considero o “som que eu queria”. Como falei, estamos experimentando sonoridades diferentes, trazendo como convidados percussionistas com suas peculiaridades sonoras a partir de seus sets de percussão.
Por que a escolha de Caíto Marcondes para este show? Quais são as características que ele apresenta em sua sonoridade?
Caíto é muito mais que um percussionista ele é multi-instrumentista, maestro, arranjador, compositor e tem sua própria trajetória musical como solista. Além disso, temos uma amizade muito fortalecida na música. Já tocamos muito e gravamos juntos com o Duofel e outros artistas. Isso foi fundamental para convidá-lo. Ele também toca o zendrum eletrônico, um instrumento contemporâneo, com linguagem eletrônica e que eu queria experimentar na banda. Por outro lado, seu set de percussão também traz sons de todos os cantos do mundo e tem personalidade própria. Isso me interessa muito, pois nunca havia convidado alguém para nos acompanhar, mas sim para somar e trazer sua criatividade para enriquecer texturas e timbres em cada fase experimental. Gravamos recentemente um single, “Só na Mente”, música minha, com Caíto no zendrum, e estamos ensaiando para este show, na Blue Note SP, e outros, unindo sua percussão tradicional e o zendrum.
Comente três músicas que estarão no repertório do show.
“Bananeira”, de João Donato e Gilberto Gil, tem um arranjo muito suingado, onde a divisão do tema é um destaque, além dos momentos de improvisação do teclado sutil de Geovanna, e da guitarra em harmonias diferentes. Outro arranjo bem interessante e vibrante é para o medley que reúne “A Voz do Morro”, de Zé Keti, e “Fly Me To The Moon”, de Bart Howard, que chamamos de “Fly Me To The Morro”, com muito suingue. Essa é mais uma música que deixamos nossa marca quanto à divisão do tema, uma característica minha com a Tric J azz Rok. Este é um bom momento para curtirmos a criatividade e técnica de Caíto Marcondes na improvisação. O show é basicamente apoiado em músicas de minha autoria, mas vou destacar a mais recente que é “Só na Mente”. Acho que ela sintetiza o que espero com esse novo trabalho, que é levar conforto através da música, groove e suingue, em linguagem simples e sofisticada onde há experimentos a harmônia liderando a melodia. Nesse momento, o Caíto deita e rola no zendrum.
O que o público que for ao show deve ter em mente?
Minha música tem um propósito maior do que mostrar o virtuosismo, que é privilegiar a melodia e ao mesmo tempo a sofisticação harmônica e sonora, seguindo os preceitos de meu padrinho Hermeto Pascoal: no ritmo, o Pai, na harmônia, a Mãe e na melodia, o (a) Filho (a).
Assista, a seguir, ao vídeo no qual os artistas mostram com exclusividade para o blog uma música ainda sem nome, mas elencada para o repertório do show.
SHOW LUIZ BUENO E TRIC J AZZ ROK CONVIDAM CAÍTO MARCONDES
QUANDO Sexta-feira (28), às 20h
ONDE Blue Note São Paulo, av. Paulista 2073, Bela Vista, São Paulo, tel.(11) 97428-2548
QUANTO De R$ 60 a R$ 120