DEPOIS DA FACADA
No Datafolha de 10 de setembro, quatro dias depois da facada, com Lula já declarado inelegível pelo TSE e com Haddad como como nome do PT, Bolsonaro assume a liderança no primeiro turno, com modestos 22%. Na sequência, vinham Ciro (13%), Marina (11%), Alckmin (10%) e Haddad (9%). Além de liderar a rejeição (43%), o pai de Flávio (e dos outros…) perdia para a então ex-ministra do Meio Ambiente (43% a 37%), para o ex-governador de São Paulo (43% a 34%) e para o pedetista (45% a 35%). Empatava com Haddad, que acabara de entrar na disputa: 39% a 38%.
Aquele tom triunfalista de Flávio mudou. Constatou-se que o ferimento era, com efeito, mais grave do que se informara inicialmente. E as pesquisas não responderam com a imediatez imaginada. Então o super-herói — à moda Trump que vimos ontem — cedeu lugar ao mártir. Um Bolsonaro lutando contra a morte no hospital “para salvar o Brasil do comunismo” começou a ser magnificado nas redes.
Como estava no hospital, o extremista de direita parou de ser confrontado por adversários também no horário eleitoral. Não podia comparecer a debates, mas concedia entrevistas no hospital, no leito do herói. Saltou para 28% na pesquisa de 19 de setembro e já empatava no segundo turno com Marina (42% a 41%), com Alckmin (40% a 39%) e com Haddad (41%). Só aparecia atrás de Ciro (45% a 39%).
Na véspera do primeiro turno, os 22% que a vítima triunfante de Adélio tinha quatro dias depois da facada já haviam se convertido em 38% (40% dos válidos). Aparecia numericamente à frente do candidato do PT no segundo turno (45% a 43%); de Alckmin (43% a 41%) e se aproximava de Ciro, mas ainda atrás (47% a 43%). Na véspera do segundo turno, o Datafolha apontou que Bolsonaro tinha 55% dos votos válidos contra 45% de Haddad. No resultado no TSE: 55,13% a 44,87%.
Não há por que duvidar de que a campanha de Trump vai tentar transformar tiro em votos, mas ele já liderava a disputa. Flávio tentou conservar o que dissera horas depois da facada. Em evento de campanha de 9 de setembro, afirmou: “Meu pai não vai ser eleito por causa de uma facada. Ele tomou a facada porque já estava eleito. Essa é a realidade, doa a quem doer”. Doeu ao Brasil, aos pobres, os milhares de mortos por Covid, à ciência, ao bom senso, ao bom gosto etc. Mas era mentira. Ainda que um mau espírito já houvesse, sim, despertado das trevas havia um bom tempo, “a realidade” é que Bolsonaro passou a fazer uma campanha sem adversários. O tiro pode consolidar a vantagem de Trump. Bolsonaro só foi eleito porque a Lava Jato havia tirado do embate aquele que o teria vencido e que o venceria depois e porque Adélio fez o que fez.
OUTRAS DIFERENÇAS
Bolsonaro foi atacado no dia 6 de setembro, e o primeiro turno se deu no dia 7 de outubro. As eleições nos Estados Unidos acontecem no dia 5 de novembro. Ainda há pela frente três meses e três semanas. Os democratas têm mais tempo para tentar uma resposta. Estou aqui a dar alguma esperança a quem não quer Trump eleito? Não necessariamente. Até porque Biden não ajuda.